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Polícia e Bandidos: Agentes penitenciários são “batizados” pelo PCC, aponta investigação.

IPA Brasil

Agentes penitenciários são “batizados” pelo PCC, aponta investigação da Polícia Civil do Estado de São Paul - Foto por: IPA Brasil
Agentes penitenciários são “batizados” pelo PCC, aponta investigação da Polícia Civil do Estado de São Paul
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           O PCC (Primeiro Comando da Capital) está incorporando agentes penitenciários do país à facção, segundo investigações da Operação Echelon, da Polícia Civil de São Paulo. Um dos agentes incorporados seria chefe de segurança de uma prisão em Londrina (PR), de acordo com a apuração policial. A materialidade chegou por meio de um telefone grampeado em 25 de novembro de 2017, à 0h58. Na ligação, um integrante do PCC, identificado como “J”, fala sobre duas exclusões de "irmãos" da facção na cidade paranaense. O alvo diz que é para excluí-los no ato, mas o ideal seria trazê-los para a cantoneira, local em que as pessoas são levadas ao julgamento pelo “Tribunal do Crime”, e conclui: “Chegou na cantoneira, polícia [agente penitenciário] nóis vai ripá. Não tem essa de polícia entrar pro comando, pro crime. Isso não existe.". O integrante do PCC “J”, em telefonema interceptado ainda afirma que os dois agentes penitenciários teriam entrado para o "progresso" da facção, e que fizeram dívida com o PCC, e conclui que "que vai pedir pra geral trazer esses caras na mão urgente". O Depen (Departamento Penitenciário) do Paraná não se manifestou sobre o assunto até o momento.

           O "batismo" é uma cerimônia, feita às vezes em conferência telefônica, na qual o criminoso afirma que aceita as regras da facção, respondendo a um questionário. Ao ser aprovado, entra para o chamado Livro Branco, onde estão os ""irmãos" do crime.

 

           Na investigação apurou-se que agentes de uma prisão de Campo Grande (MS) também teriam sido incorporados pela facção. No dia 15 de novembro de 2017, às 9h13, Laudemir Costa dos Santos, o Dentinho, 39, que cumpre pena no presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, ligou para um homem, o qual chama de "padrinho" e disse que estava com um problema. Segundo ele, um integrante do PCC, identificado como Sub Zero, passou por cima do "brecamento" que tinha, por dívida, para comprar drogas. A investigação policial detectou “Dentinho” como o que comanda o setor responsável por cadastrar e coordenar integrantes do PCC nos estados e país, além dos que estão em situação de inadimplência, dívida ou indisciplinas perante à facção criminosa.

           Embora tenha sido advertido e suspenso, Sub Zero voltou a comprar drogas, violando a suspensão. Primeiro, ele tentou comprar 1 grama de cocaína dizendo a Dentinho que estava com um problema de saúde e foi para a enfermagem da cadeia. Na enfermagem, fez uma compra de R$ 150 em cocaína e consumiu a droga. Cinco dias depois, o dono da droga "tentou conduzir Sub Zero no prazo", o que significa que a facção, diante de um inadimplente, lhe concedeu um prazo para pagamento, sem que isso gerasse qualquer tipo de consequência. No entanto, Sub Zero obteve três prorrogações de prazo e foi advertido de que não poderia mais participar de ações relacionadas ao PCC, ou de pelo menos ter algum privilégio. Dentinho disse ao seu "padrinho", por telefone, que às 12h, quando as celas abrissem, iria falar com um agente penitenciário para "mixar" (significa que o agente penitenciário iria deixar a cela aberta ou conceder algum privilégio que beneficiasse os presos naquele setor) duas celas, sendo uma delas onde Sub Zero se encontrava, e depois fazer o mesmo com as restantes. Dentinho ainda afirmou: "Eu já estou batizando dois agentes. Eles vão trazer pra mim aqui pra conversar com ele [Sub Zero]".

           Interrogado pela Polícia, Dentinho disse que não faz parte do PCC, e alegou que apenas tem convívio com pessoas vinculadas à facção, de modo que nada sabe sobre nomes, expressões, cargos ou terminologias relacionadas ao crime organizado. A Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) do Mato Grosso do Sul afirmou que iria verificar as informações. "Até o momento a Agepen não foi comunicada sobre o inquérito pela Polícia de São Paulo, mas a referida denúncia será encaminhada à Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário para as devidas apurações, e se necessário, à Corregedoria Geral da  Instituição”.

           Outra Interceptação telefônica de 7 de novembro de 2017, às 13h48, apontou dois integrantes da facção discutindo por que um advogado (Advogado do PCC fazia concurso para agente penitenciário) identificado como Tiago, teria sido barrado no concurso de agente penitenciário no Rio Grande do Norte sob a desconfiança de que ele entraria no "sistema" para ajudar o "comando". Os criminosos chegaram a sugerir fazer um protesto em frente ao fórum e presídios, com 150 camisetas e apoio de militantes dos direitos humanos, como forma de protesto em razão do fato.

Rebelião no Presídio no Rio Grande do Norte

           O promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Lincoln Gakyia, diz: "Como toda organização criminosa, o PCC também tem forte participação na cooptação e corrupção de agentes públicos, atividades típicas de máfias. Isso já ficou bem demonstrado com a Operação Ethos, do ano passado, com a condenação do vice-presidente do Condepe (Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana) por corrupção e participação em organização criminosa".